quarta-feira, 5 de abril de 2017

'Uma Decisão' e 'Primeiras Mentiras' [editado]



Continuação direta do trecho anterior em 'Na manhã seguinte'.



CAPÍTULO VIII
***

– Deixa eles, amor. – G. tinha acabado de acordar.
– O E. vai arrumar encrenca, só isso. – V. não estava com ciúme da prima, estava realmente preocupada com o amigo. – Aquela B. não vai gostar disso.
G. se limitou a observar V. preparando o café. Pouco depois E. veio se juntar a eles.
– Bom dia! – falou com uma alegria que fez G. rir e se levantar em direção à sala, pressentiu a bronca:
– Bom dia e boa sorte... – deu dois tapinhas no ombro do amigo, ligou a televisão e deitou no sofá.
V. parecia furiosa, mas ficou calada enquanto E. se servia do café.
– Você trocou de turno? – E. para G..
– Fui trocado de turno. Menos mal, entro agora às duas da tarde, senão já teria que estar lá desde madrugada de novo.
– Não vai comer, V.?
– Exames, esqueceu? Aliás, está quase na hora de sairmos. – E virando-se para o namorado: – Vou tomar um banho, amor. – E de novo para E. com a cara fechada enquanto ia para o corredor. – Esteja pronto, quero voltar logo.
Quando ela desapareceu no banheiro:
– Nossa! Tinha esquecido que você vai levar ela, por isso ainda não ouviu. Vai ouvir no caminho.
– Ouvir o quê?
– Vai dizer que nem imagina?
E. sabia, mas deu de ombros.


– Quando você disse que ela podia ficar no seu quarto, isso não incluía você dentro dele. – e quando E. abriu a boca: – E não diga que “aconteceu”, se não fosse eu naquela sala, vocês já estavam se agarrando há horas.
– Verdade...
– Ainda bem que não nega, pelo menos. Mas você pensou na sua namorada? Você acha certo isso?
– Não, não acho certo.
– Mas fez.
Fez-se silêncio no carro. Ao chegarem à clínica, V., mais calma, disse:
– Você não era assim quando eu conheci você.


Depois de realizados os exames, ainda havia silêncio. Vanessa novamente foi quem puxou:
– Não fique bravo comigo. Sabe que só quero seu bem.
– Eu sei.
– E você também sabe que você e a T. juntos é rolo, é confusão, é arriscado... – E. apenas concordou com a cabeça. V. continuou: – Você começou a namorar há tão pouco tempo, já vai estragar tudo?
– Não, não vou estragar nada.
– O que você vai fazer então?
– É o que a gente vai discutir agora. – E. estava sério e V. só então percebeu que estavam indo em direção ao centro da cidade. – Você precisa comer, estamos quase num restaurante.
V. estava surpresa:
– Você não ia levar o G.?
– Liguei para ele enquanto você estava falando com a atendente, depois que a gente saiu da sala de exames. Ele vai pegar o ônibus hoje e amanhã.
– Amanhã também?
– É. Amanhã também.
V. não perguntou mais nada, e durante o almoço foi E. quem puxou a conversa. Era a primeira conversa séria que tinha com ele desde que o conhecera. O amigo se abriu como tinha certeza que nunca tinha feito, mesmo com G. que era seu melhor amigo. V. apenas ouviu, E. falou pausadamente enquanto os dois comiam. Quando terminou, perguntou:
– O que você acha? – E olhou a amiga nos olhos.
– Se é o que você quer, tem meu apoio. Você sabe o que eu acho, mas eu estou te devendo, né? Eu ajudo.
– Não. Você não entendeu. Não estou te cobrando nada. Não precisa nem me ajudar. Mas eu preciso da sua opinião.
– Eu acho estranho. Não esperava... sinceramente... – Vanessa não sabia o que dizer – É o que você acha certo?
– Não sei se é certo, mas como está não é. – Erick deixou de olhar Vanessa nos olhos e olhou para seu prato.
– Imagino. – Achou que a conversa já tinha terminado, pelo menos por enquanto. – Você avisou a T. que a gente não ia voltar pro almoço?
– Pedi para o G. avisar. Mas tinha comida em casa, não se preocupe, você sabe que ela se vira.
Quando estavam de novo no carro voltando para casa:
– E o que você vai dizer para a B.? – E olhou para E.. Ele parecia perdido.
– Não sei, é aí que você entra. – e percebendo o susto de V., sorriu – Não. Quem vai falar com ela sou eu, mas preciso de você lá comigo, quero que você me ajude a achar um jeito de terminar com ela sem precisar contar o que eu te contei agora.
– Entendi – E V. novamente se virou para a rua e apoiou a testa contra o vidro da porta. “Nossa. Achei que ia só dar uma bronca por ele ter passado a noite com a T. e agora isso.” Estava na hora de dar uma de E.: – Já sei! – e quando E. olhou para ela enquanto desciam do carro em frente à casa, quando os dois já estavam na calçada, terminou: – diz para ela que eu estou grávida de você e não do G..
E. viu a amiga abrir um sorriso enorme e entendeu a tentativa.
– Você está andando muito comigo. Está aprendendo o que não devia já. – E. sorriu e abraçou V..
Entraram e... sentada no sofá, B. estava conversando com T., na sala.
– T., vem comigo. – V. puxou a prima.
Quando as duas entraram no quarto, foi B. quem começou:
– Vim te chamar para almoçar comigo, o G. não estava, e a sua amiga me fez companhia.
E. se limitou a sorrir, sentou-se ao lado da namorada, onde T. estava sentada.
– Ela me disse que vocês três foram... passear ontem à noite.
– Fomos.
– Encontraram a R. e minha mãe também.
– É.
– E pelo jeito – apontando para o colchonete dobrado embaixo da mesinha da sala – deram uma esticada aqui, né?
– Isso, assistimos um DVD pra esperar o G. chegar. Tentei te ligar ontem, mas não te achei pra sair com a gente ontem.
– Imagino.
E. decidiu que não era hora de enrolar, nunca fizera isso, e não iria começar agora:
– B.. A gente precisa conversar...
– Terminar, né? – Havia lágrimas quando E. olhou seu rosto. E. a encarou por trás dos óculos. Era a confirmação. – Por causa dessa T., né?




CAPÍTULO IX
***


Com a namorada dando a deixa para a mentira que já pretendia contar, E. não hesitou:
– É, B....
– Eu vim aqui pra uma coisa, mas desconfiei assim que vi essa T.. – ela chorava. – Vocês dormiram juntos ontem?
– Não. – A história não precisava ser contada em detalhes.
– E você nunca deixou de me dar um beijo sempre que me viu.
– E você ia querer me beijar já desconfiando assim?
Ela não respondeu. Seus olhos responderam. Queria.


– Como foi? – Vanessa estava preocupada. Ouviu a porta do quarto ao lado ser aberta menos de cinco minutos depois de deixar a sala.
– O que você acha? – estava olhando o teto, deitado na cama.
T. apareceu na porta do quarto atrás da prima. Não estava mais sorrindo. V. pediu fria:
– Posso conversar com ele?
– Vou ver o que fazer pra janta. – e saiu.
V. se sentou na cama ao lado de E.. Não abraçou o amigo, sabia que ele ia chorar se fizesse isso e não ia mais querer conversar. Preferiu arriscar de novo:
– Se fodeu, né? – e sorriu.
E. olhou pra ela, os olhos brilhando, cheios de lágrimas, disse sério:

– Definitivamente, você tá andando demais comigo.


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