– Vira de costas! – Mas ela não precisava nem pedir.
Ele sempre se sentava na cozinha de costas para o corredor do banheiro e dos quartos, e nunca se virava, mesmo assim ela se habituara a gritar a mesma frase todos os dias antes de sair do banheiro. Ele sabia que ela não sairia nua, mas de calcinha, e uma camiseta cavada cinza, e ainda com uma toalha enrolada nos cabelos.
Ele sempre se sentava na cozinha de costas para o corredor do banheiro e dos quartos, e nunca se virava, mesmo assim ela se habituara a gritar a mesma frase todos os dias antes de sair do banheiro. Ele sabia que ela não sairia nua, mas de calcinha, e uma camiseta cavada cinza, e ainda com uma toalha enrolada nos cabelos.
Era linda,
morena, um pouco mais baixa que os dois colegas de casa, sempre animada. Era
mais uma que seria irreconhecível depois das transformações que sofreu durante
a graduação, quando foi morar ali. Apareceu tímida. A prima recomendou os amigos.
Quando terminou de se
vestir, ainda o encontrou sentado à mesa. Só os dois dormiram na
casa, G. saiu ainda de madrugada, mesmo no feriado teve que trabalhar, a
única coisa que ainda o prendia a esse emprego era o salário, mas ele agradecia por ter conseguido coisa melhor e deixado esse emprego de
turnos malucos.
Ele estava distraído e
não percebeu a colega vindo pelo corredor. Ela o abraçou por trás e deu um
beijo na sua bochecha. Depois, deu a volta na mesa e começou a se servir do
café também.
– A conversa rendeu
ontem? – Ela estava a par dos planos do casal para ajudar a cunhada dele.
Simpatizara muito com ela.
– Uma tremenda dor de
cabeça – ele sorriu, mas estava com o rosto todo torto, como se tivesse
acabado de se levantar. Ela sabia que ele estava ali na cozinha há
horas. – E minhas costas estão doendo como nunca, fiquei me remexendo na cama a
noite toda sem conseguir dormir. Eu estava acordado quando o G. saiu.
– Depois te faço uma
massagem.
Ele deu risada.
Adorava as massagens, mas se a namorada soubesse dessas sessões, estaria com
problemas.
– Viu, lindo, precisava
te pedir uma coisa. Vou precisar de um favorzinho seu.
– Se eu puder...
– Falei com sua namorada domingo só que ela não vai poder. Disse pra pedir para você já que está livre
esta semana.
– O que?
– Preciso de carona para
ir fazer meus exames.
– Que exames?
– De sangue e um outro
que eu não lembro qual é, mas tenho lá marcado. Pode me levar amanhã?
– Claro.
– Ótimo, então me acorda
cedinho amanhã, tá?
– Acordo sim, daí a
gente toma um banho juntinhos e se não estiver grávida eu tiro essa dúvida pra
você. – e conseguiu rir apesar da dor de cabeça.
– Vai, bobo, vai
brincando. Depois você deixa escapar uma dessas na frente dela, e vai ouvir
tanto que vai sentir saudades da dor de cabeça de hoje.
– Ela é desencanada, eu
acho.
– Nenhuma mulher é
desencanada. – Sorriu e pegou mais um pão.
– Tá bom. – Erick se
levantou e arrastou os pés até o quarto.
Deitou na cama e ficou
pensando na companhia da noite anterior. “Cara, quanta besteira eu estou
pensando”.
[...]
– Erick... – Sentiu uma
mão acariciando suas costas. – Almoço. Vem.
– Aham...
[...]
– Quer a massagem agora?
– Ô!
Tiraram a mesinha da
frente do sofá, e enquanto ele desenrolava o colchonete de viagem, ela desligava a televisão e colocava um CD para ouvirem. Ele tirou os óculos e a
camiseta e deitou. Ouviu uma música conhecida saindo das
caixas de som e riu.
– Scorpions?
– E eu ouço outra coisa?
– BeeGees. – e virou a
cabeça para sorrir para a amiga que fez uma careta:
– Fica quietinho senão
fica sem a massagem.
[...]
Erick acordou com
a amiga conversando com outra voz conhecida no sofá a sua direita, virou-se de
barriga para cima e pegou os óculos na mesinha. Colocou-os e olhou para a amiga e a prima dela:
– Cinema?
– Claro!
[...]
Deitados no chão da
sala, ele à direita abraçando a prima da amiga pela cintura, com a cabeça apoiada em
seu colo, enquanto ela lhe acariciava os cabelos.
Perto de onze e meia,
barulho de chaves na porta e G. entrou, cumprimentou os amigos com uma
cara cansada e um beijo na namorada, disse que ia tomar um banho, enquanto os
outros terminavam com o filme. Pouco depois, ela deu um “boa noite” aos
dois que ficavam na sala e foi se encontrar com o namorado que já saía do
banho.
Parecia que os dois que ficaram na sala já tinham combinado antes: assim que a porta do quarto se fechou, ele levantou a cabeça do colo dela e começou a beijá-la. Tinham feito isso
várias vezes, mas não desde que ela começara a namorar havia alguns meses,
depois ele também começara e pouco se viram desde então. Agora ela estava
novamente sozinha e não sentia remorso por ele não estar.
Longos minutos se
passaram, o filme já havia acabado, ele desligou a TV e continuaram a se
beijar. Ela foi quem primeiro falou:
– Soube que
você está de cama nova.
Ele já esperava.
Ela continuou depois de mais um beijo:
– Vem comigo... – e o
puxou.
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