domingo, 13 de outubro de 2013

Uma das "DUAS CONVERSAS" (editado)





[...]
Começou a perceber que estava prestando atenção a detalhes demais, ficou pensando se já não era hora de começar a se policiar com relação à bebida quando ouviu a voz dela despertá-lo:
– Mais uma, por favor! – pedia para o garçom que passava. Após a troca das garrafas olhou para ele e sorriu. Ela parecia ainda sóbria, mas ele imaginou que também devia estar aparentando o mesmo.
Enquanto ela enchia os dois copos, o olhar dele se fixou em seu decote. Queria tirar os olhos dali, mas não conseguiu. Teve a certeza de que já ultrapassara os limites seguros do álcool. Sentiu medo de fazer alguma besteira. Pela primeira vez desde que se sentou naquela mesa com ela, pensou na namorada.
Puxou o celular do bolso e verificou se havia alguma ligação ou mensagem da namorada. Não havia. Até aquele momento não se preocupara com a hora de ir embora, mas começou a ansiar pela hora em que seria chamado de volta a casa da namorada. Guardou o celular novamente no bolso e olhou para ela, que colocava de volta o copo na mesa. Ela sorriu.
Era um sorriso inocente, mas que ele achou tentador.

[...]

Ela contou seus últimos dez anos, detalhou alguns romances, contou-lhe de algumas amizades, falou de seu emprego. Mas ele já não estava tão atento às palavras. Ele somente via seus lábios se moverem.
“Morango”, pensou olhando para os lábios rosados e ainda brilhantes de batom, já duas vezes retocados no banheiro aquela noite. "Por três vezes, foram três”, ele contou, o álcool o fez contar, por três vezes ela tocou sua mão, sentiu a mão gelada por causa do copo gelado e do ar frio da noite. Tinha certeza que no dia seguinte ia se lembrar detalhadamente de cada palavra sobre o que ela estava contando, mas naquele momento ele só via seus lábios. Tinha que desviar os olhos. “Ela vai acabar percebendo, vai ficar chato.”
Ela pediu mais uma garrafa, as garrafas ele já perdera a conta de quantas eram. Olhou mais uma vez para o relógio, já era tarde, quase quatro horas sentados ali. Procurou o celular no bolso, estava tocando. Pediu licença e atendeu. Não precisaria disfarçar se fosse a namorada. Não era, um colega de trabalho o convidando para ir com a namorada até sua casa para saírem. Disse que não estava com ela, que estava ocupado, disse que ligava na sexta à noite.
“Ele também está alto” ela se tranqüilizou ao ouvir a voz amolecida dele ao telefone. Sentiu-se aliviada, pois já estava preocupada com seu estado, imaginou que se novamente fosse ao banheiro, andaria cambaleando.
– Vamos embora? – ele não queria mais ficar ali. Estava começando a pensar se seus atos corresponderiam aos seus pensamentos a partir daquele momento.
– Vamos, então. – Apesar do alívio, ela se sentiu novamente sozinha, estava adorando a companhia, estava mesmo se divertindo.
Após uma breve discussão, iniciada por ela, que não queria ele pagando a conta toda sozinho, voltaram andando.
 [...]
– É...
– Você não está muito legal, acho que bebeu demais, não quer dormir por aqui? Dá uma ligada lá na sua casa e avisa.
– Não, não. Eu vou. – ela sorriu – Valeu mesmo pela noite. Você ainda quebra um galhão quando o assunto é animar alguém. – deu um beijo no rosto de dele e começou a andar de costas para o carro, olhando ele nos olhos e sorrindo. – Boa noite. – e deu uma piscada.
Ele ficou olhando o carro dela se afastar e virar dois quarteirões a frente. Pensou um pouco e foi para seu carro. Sonhou com lábios rosados, com cheiro de morangos, naquela noite.

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